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20 de setembro de 2016 / Angelo Miloch

Poema: Voz (Angelo Miloch)

Ela tem a voz tão meiga, baixa,

que é difícil até de ouvir.

E mesmo quando a paixão sobe

enraivecida pela garganta, é

com tom de ternura que diz:

tem amo

8 de agosto de 2016 / Angelo Miloch

BO contra Feliciano e Bauer tem nove páginas e cinco “capítulos”

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A Polícia Civil do Estado de São Paulo dividiu em cinco “capítulos” as denúncias feitas pela jornalista Patrícia Lélis contra o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) e o assessor dele, Talma de Oliveira Bauer.

Feliciano e Bauer – este chegou a ser detido após o registro do BO (boletim de ocorrência), na última sexta-feira (5) – serão averiguados por tentativa de estupro, sequestro e cárcere privado, e coação no curso de processo, artigos 213, 148 e 344 do Código Penal, respectivamente.

O blog teve acesso ao BO, de nove páginas. A história começa com o item “I – Do Assédio”, passa pelo “II – Da tentativa de Compra de Silêncio da Vítima”, “III – Outros Fatos”, “IV – Da Coação” e “V – Do Sequestro”.

O boletim levou mais de oito horas para ser concluído: o registro começou as 18h08 do dia 5/08 e terminou as 2h49 da madrugada seguinte. De acordo com o documento, e com as acusações de Patrícia, destaco estes pontos:

  • Feliciano ameaçou Patrícia diretamente pelo celular de Talma dizendo que “se a vítima não gravasse um novo vídeo de melhor qualidade, mandaria Bauer lhe matar”.
  • Feliciano ofereceu salário de “aproximadamente” R$ 15 mil e “outras regalias” para Patrícia ser amante dele;
  • Em reunião do PSC, o presidente do partido, Pastor Everaldo, disse que “achava melhor a vítima ficar quieta”;
  • Talma Bauer ameaçou Patrícia armado;
  • Talma usou a própria filha para, mediante ameaças, conseguir um novo vídeo;
  • Talma baixou o WhatsApp de Patrícia em seu notebook pessoal e se passou por ela;
  • Talma falou a Patrícia que “mataria sua família caso a vítima não informasse seu paradeiro exato”.
  • Traído pelo WhatsApp, Talma se passou por Patrícia em conversa com jornalista e foi descoberto. O repórter desconfiou e ligou para ela, foi quando soube da história;

Leia alguns trechos do BO:

I Assédio

I Assédio-1 I Assédio-2

II Tentativa de Compra de Silêncio

II Silêncio-1

III Outros

III Outros-1III Outros-2III Outros-3

IV Coação

IV Coação-1

V Sequestro

V Sequestro-1 V Sequestro-2 V Sequestro-3

Como se lê no BO, Bauer negou asa acusações e foi liberado em seguida. Feliciano também negou, e postou sua versão no Facebook. Segue abaixo:

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6 de agosto de 2016 / Angelo Miloch

Deputado defende Feliciano em caso de estupro, mas apaga post após detenção de Bauer

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O deputado federal paranaense Paulo Eduardo Martins (PSDB-PR), além de ser preconceituoso, mostrou que também advoga a favor de acusados por abuso sexual.

É que na última quarta-feira (3), ele publicou no Facebook o vídeo em que Patrícia Lélis, quem acusou o deputado federal pastor Marco Feliciano (PSC-SP) de abuso, se retrata e diz que a história foi invenção da “esquerda”.

Ontem (6), a moça, de 22 anos, e que militou pelo mesmo partido de Feliciano, registrou boletim de ocorrência dizendo ter sido ameaçada por Talma Bauer, chefe de gabinete do pastor, e obrigada a fazer a retratação em vídeo.

Após o BO, Talma foi detido pela Polícia Civil. A partir de então, Paulo Eduardo, que se gaba por ter “nascido”, “engatinhado” e “crescido” com a direita brasileira, retirou a publicação em que defende Feliciano dizendo que Patrícia “desmentiu tudo” do Facebook.

A publicação sumiu do Facebook, mas o link ficou no Twitter. Claro, questionado sobre o porquê de ter apagado o post, e se a exclusão tinha a ver com a detenção de Bauer, Paulo Eduardo Martins não respondeu.

paulo-3

Abaixo, print da página de Paulo Eduardo Martins, de onde o post foi apagado.

paulo-2.png

Paulo Eduardo Martins demostrou puro preconceituo ao publicar, de forma pejorativa, foto de Paulo Silva, candidato à prefeitura de Londrina pelo Psol.

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12 de junho de 2016 / Angelo Miloch

Menino bom, contexto ruim

Um homem de 34 anos matou a mulher, de 22 anos, a pauladas, no Dia dos Namorados, em 2015, e foi preso. O caso é antigo, mas remete a uma reflexão atual. Explico.

Enquanto apurava o caso, conheci o filho do acusado, um adolescente de 12 anos. Gente boa, me atendeu com educação. O garoto estava na cena do crime, então contou alguns detalhes.

Antes de falar do menino, contextualizo o leitor. O casal vivia há cerca de seis meses num sobrado humilde do Jardim Amanda I, um dos bairros de Hortolândia, no interior de São Paulo, com maior índice de criminalidade.

O homem, servente de pedreiro desempregado. A mulher, grávida de três meses segundo vizinhos, trabalhava numa lojinha da vila. Os dois usavam drogas.

Além do casal, os avós paternos do garoto e uma irmã (são filhos do primeiro casamento do acusado) residem no imóvel – é sobrado simples, de periferia, nada de alto padrão.

Na manhã do dia 12, uma vizinha chamada Baiana acordou com os gritos da vítima pedindo que o companheiro parasse as agressões.

Alegando ciúmes, o homem, após quatro pauladas na cabeça da mulher, deixou de agredi-la, a abraçou e aguardou a chegada da polícia. Disse estar arrependido e que pagaria pelo crime.

O primeiro a socorrer a vítima foi o filho do acusado. O garoto de 12 anos viu a madrasta tendo convulsões e fez massagens cardíacas na intenção de reanimá-la. Socorrida, a vítima morreu no início da tarde.

Quando bati palmas na casa da família, fui atendido pelo filho do acusado que, do outro lado da rua, empinando pipa, veio me atender. Ele se mantinha sereno.

Mesmo após testemunhar o pai matar a mulher, o garoto seguiu com a rotina e foi soltar pipa na rua. Ele me contou o que houve, sem receio, raras vezes demonstrando alguma lástima. “Pai, precisava ter feito isso?”, disse, relatando ter repreendido ao pai assassino.

Um menino bom num contexto ruim, é como defino aquele pré-adolescente. Tenho me perguntado que será que o futuro tem pra ele.

Com a mãe ausente, o pai preso, a madrasta morta e os avós ocupados, no Jardim amanda, e com a frieza de quem viu uma mulher ser morta a pauladas, o que esperar:

(1) ele vai superar o episódio com psicológico de quem não se abala e vencerá na vida ou; (2) será recrutado pelo crime e acabará “puxando” carros, roubando casas ou traficando drogas?

Eu, particularmente, vou acreditar na opção (1), mas receio que vai acertar a questão quem apostar na (2).

Em tempo, se o Brasil reduzir, de fato, a maioridade penal, a sociedade vitimará ainda mais o garoto , que será encarcerado num presídio semelhante ao inferno porque, afinal, a Justiça precisa ser feita.

*o texto original escrito por mim foi publicado no Jornal O Liberal.

Mais em http://www.facebook.com/angelomiloch

@AngeloMiloch

5 de junho de 2016 / Angelo Miloch

Números sobre a violência contra as mulheres

Meses atrás, publiquei o tão comentado vídeo em que o apresentador Ratinho chuta sua assistente de palco, Milene Pavorô. O assunto esquento, ferveu e esfriou, mas, o que restou daquilo?

Compartilhei o vídeo na quinta-feira, dia 21, feriado de Tiradentes, no Facebook. Na sexta, ele se espalhou e alcançou um milhão de visualizações para, no sábado, viralizar e passar de dois milhões e meio de views. A rede social excluiu a publicação no domingo.

Dentre os mais de 10 mil comentários, dois chamaram atenção. No primeiro, um homem disse que iria argumentar com uma mulher, mas, que após “ler o nome e ver a foto” dela, desistiu. Pré julgamento, para não dizer racismo. No outro, fui chamado de “esquerdopata”. Relacionaram à esquerda um tema que deve estar presente em todas as ideologias políticas.

Quero voltar ao tema inicial do alarde: a violência contra as mulheres. Não tocaram mais no assunto. Ninguém. Basta ver: após o período em que a polêmica ficou no ar – do dia 21 ao dia 25, no máximo, presumo -, quantas vezes este tema tornou à pauta das páginas, blogs e portais da internet? Que eu lembre, nenhuma.

Eu gostaria de saber, agora, dos meus haters, que me classificaram como sensacionalista, oportunista, irresponsável: o que mudou pra vocês? O que adiantou criticar um discurso que denuncia a violência contra as mulheres, combate a desigualdade de gênero e promove respeito ao sexo feminino, que de frágil já provou não ter nada?

Se você não conseguiu sair da caverna e resumiu o caso Ratinho x Pavarô ao apresentador do SBT Carlos Massa e à Milene Pavorô, leia com muita atenção esta estatística: 4.762 mulheres foram mortas no Brasil em 2013 – 13 vítimas por dia. São informações do Mapa da Violência 2015, as mais recentes (consulte: http://goo.gl/6NrRlV).

Pergunto, ainda, àqueles que consideraram a violência gratuita veiculada em TV pública aberta no horário nobre “uma brincadeira infeliz”: você, homem ou mulher, tem medo de ser estuprado (a)? Pois, saiba que 90,2% das mulheres de 16 a 24 anos afirmaram ter medo de sofrer violência sexual, segundo o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (o mais recente), lançado em novembro de 2015 (consulte: http://goo.gl/x3cQwq).

Em tempo, o Brasil foi escolhido como país-piloto para adaptação do protocolo latino-americano para investigação das mortes violentas de mulheres por razões de gênero (femicídio/feminicídio). O primeiro critério de seleção para a escolha foi a prevalência (!) e relevância (!) das mortes violentas de mulheres por razões de gênero no país (consulte: http://goo.gl/Tqt8uo).

A escolha foi iniciativa da ONU Mulheres no Brasil e do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos – esse que o governo interino Temer extinguiu -, e teve apoio do governo australiano.

Sendo assim, “direitopata”, não limite um debate amplo à polêmica de uma única cena. Não resuma suas conclusões a um “gente, está tudo bem” proferido, sabe-se lá Deus a qual custo, por uma mulher vitimada. Saia da caverna e não propague o diálogo do “pare com esse vitimismo”. Se sua vida vai bem, as de muitas mulheres não vão, e você sabe a que me refiro, agressor.

27 de abril de 2016 / Angelo Miloch

Ratinho chuta Milene Pavorô ao vivo e ameaça demissão

Abaixo, texto da postagem que o Facebook excluiu.

O apresentador Ratinho deu um chute em sua ajudante de palco Milene Pavorô, ao vivo, no programa que foi ao ar pelo SBT – Sistema Brasileiro De Televisão, no último dia 15. Visivelmente constrangida, a integrante do elenco deixou o palco no meio do quadro Foguetinho.

Após agredir Milene – ao que parece, o chute acertou a nuca da moça –, Ratinho demostrou desconforto ao vê-la deixar o palco. “Não podemos perder a esportividade“, disse, chamando o diretor do programa. “Aroldo, o senhor notou que ela é uma funcionária rebelde? Providências terão de ser tomadas… Ela vai pra rua.”

Tentei publicar este vídeo no YouTube, mas o conteúdo tem direitos autorais e foi retirado do ar. Queria mostrar a que ponto chegou o entretenimento na televisão. Há um mar de mulheres lutando pelo fim da violência doméstica. A TV poderia reforçar o discurso, mas, ao contrário, faz o desfavor de mostrar o Ratinho nessa lamentável cena.

Mulheres são vitimadas diariamente em seus lares, e nem a lei que tornou o feminicídio em crime hediondo fez baixar os índices deste tipo de delito. Para reforçar o discurso machista e mascarar a agressão, o SBT culpa a mulher – atitude comum aos agressores: no site da emissora, o vídeo tem o título: “Pavorô vira caixa andante e se dá mal” (nota: o SBT retirou o vídeo do site). A culpa é dela, claro.

Quão infeliz o chute do Ratinho. O golpe claramente constrangeu Pavorô, a ele próprio e aos demais integrantes do elenco. Eu também fiquei constrangido. O Programa do Ratinho é veiculado em todo o Brasil. Quantos por aí não tomarão o exemplo do Carlos Massa?

E que dizer da Havan, anunciante do quadro? Se a rede de lojas patrocina ao programa patrocinou, de tabela, a agressão. Correto? Que chute o Ratinho deu em seu anunciante, não. Afinal, eu, por exemplo, se entrar numa Havan, pensarei: a loja que patrocina violência contra a mulher. Por sorte, o caso não repercutiu. O golpe afetará pouco o marketing da empresa.

Em menos de dois minutos vimos, no Programa do Ratinho, como agredir, constranger, assediar e ameaçar uma mulher. O desserviço foi veiculado em cadeia nacional, em veículo explorado por meio de concessão pública, e que deveria ser útil ao povo – e, quando falo em utilidade, não me refiro aos suspeitos testes de DNA.

A submissão da mulher no mercado de trabalho, reforçada, neste caso, pelo homem que, na imagem do diretor, diz que irá ‘encaixotá-la’, deve ser combatida, rechaçada e extinta, sobretudo nos veículos de comunicação de massa.

Este chute acertou a Pavorô, mas doeu em muitas mulheres por aí. O Ratinho, o SBT e a Havan devem desculpas a todas elas. Senão, somos nós quem devemos encaixotá-los.

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14 de fevereiro de 2016 / Angelo Miloch

Poema: Madrugada (Angelo Miloch)

Madrugada

Gosto das madrugadas. Não alguma específica, ainda que umas marquem mais que outras, mas de todas.

Produzo mais de madrugada. Penso, sinto, reflito e compartilho mais de madrugada. Choro de madrugada.

Sonho de madrugada, no sentido figurado e literal. A não ser pelas festas, as madrugadas são calmas, assim como os sonhos.

Por mim, o mundo era inteiro madrugada, sem manhã, tarde e noite. Tá aí a dificuldade em acordar cedo. Taí o motivo da insônia.

Durmo agora. Volto de madrugada.

Miloch

9 de fevereiro de 2016 / Angelo Miloch

Não se viam

O dia clareou pra os dois. Ela, pulou cedo. Ele, depois.

Pão de queijo, café e leite. Um pedaço de mamão. A moça correu. Pegou o busão.

O moço tinha café em casa. Pão, não. Nem mamão. Foi à luta. Pegou o busão.

Não se conheciam. Se viram no coletivo. Ela, de livro. Ele, fone no ouvido.

Sentados próximos, não se viam. Por edução, um singelo bom dia.

Quietos, sentados, não sabiam: estavam ligados. Desembarcaram.

Foi dia chato pra moça. No escritório, o estágio era obrigação. O livro, não.

O moço, nem viu o dia. Office-boy corria. A música, fortalecia a vida.

No livro, histórias do país onde nasceu o cantor que ele ouvia, mas não se viam.

De volta ao lar, ela descansou, tomou café e leu mais. Dormiu.

Com o dinheiro do trampo, ele comprou mamão. Comeu. Sorriu.

Simples, chato e triste assim: o mundo, não parou pra eles. Seguiu. E não se viam.

Miloch